Em Agosto, mês de todos os encontros e em que os filhos
pródigos regressam à terra, a serra veste-se de verde-roxo, saia curta que lhe
é dada pela vegetação rasteira em que a urze sobressai. Os muros de pedra a
enquadrar os parcos prados parecem bordados a ponto pé-de-flor quando vistos
dos pontos mais altos, as casas antigas e as novas, estas muitas vezes erguidas
um pouco afastadas para não estragar o conjunto, abrem-se ao sol que vivifica e
ilumina tudo de uma luz muito clara, como que a dizer-nos que a armazenemos nos
olhos para a usar no Inverno, rigoroso, frio. Sim, porque no Inverno é tempo de
lar, de hibernar, de preparar o corpo e o solo magro, pelo descanso, para mais
um ano de trabalho.
Os visitantes que não estejam prevenidos para o facto de o Instituto
Português do Património Arquitectónico e Arqueológico já ter classificado o seu
núcleo como "Conjunto arquitectónico de interesse público" pensarão
que é uma pena que não se tomem medidas para o conservar tal como se encontra e
reconstituir, mais do que reconstruir, o que não conseguiu resistir ao tempo e
à usança dos homens.
Lá do alto,
domina a igreja de S. João, que guarda e é guardada pelo Cruzeiro do Centenário
da Independência, um dos exemplares do concelho, um daqueles marcos que se
encontram pelo país a lembrar que Portugal é nação independente e muito lutou
para isso desde que o germe da autonomia começou a fermentar com o Conde D.
Henrique, levedou com o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, e tornou a
ganhar forças em 1640, quando os insubmissos procuraram a chefia de D. João, o
4º de seu nome, para o colocar no trono português. Ainda mais acima, está o
cemitério murado e bem cuidado.
Adaptado de: Projecto de Investigação. Estudos de Produção Literária Transmontano-Duriense. (Número do Projecto: POCI/V.5/A049/2005 (Medida V.5 - Acção V.5.1))
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